A um dia da abertura da Rio +20, é impossível ficar "imune" ao evento: qualquer veículo de comunicação dedica no mínimo uma matéria, uma chamada, uma nota, uma reportagenzinha que seja à reunião da Conferência
Outro dia, falando num encontro promovido pela Escola de Comunicação e pelo Instituto de Psicologia da UFRJ, comentei que a cobertura jornalística sobre a sustentabilidade caminha em ondas - sobe aos poucos, atinge um ápice e depois declina, retrocedendo até que se forme nova onda. Uma destas ondas, especialmente no Brasil, teve como crista a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, que motivou um sem-fim de reportagens jornalísticas sobre o assunto.
No encontro, também levantei que a cobertura jornalística parece estar refém do jornalismo de celebridades, chamado por alguns de jornalismo rosa. Estamos viciados em cobrir eventos e famosos. De repente, parece ser muito mais importante comentar quem veio, quem não virá, quantos participaram, como foi feita a tenda onde acontece o TEDx Rio+20 (acompanhe aqui), do que apontar questões mais fundas. Aprofundar a cobertura implica em conhecer melhor o tema, confrontar versões, fazer apurações mais sofisticadas e detalhadas, buscar conexões entre política, economia, sociedade, cultura. Mas por enquanto não consigo ver nenhuma diferença, nos grandes veículos, entre a cobertura da Rio +20 ou outra cobertura de um grande evento de relevância nacional ou internacional. Como uma Copa do Mundo, Olimpíadas....
Um claro exemplo é o relatório Panorama Ambiental Global, o GEO-5, divulgado no dia 6 de junho pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Embora tenha até sido noticiado por vários jornais, seu conteúdo foi pouco explorado, apesar do grande gancho jornalístico que temos pela frente.
O relatório aponta que apenas quatro dos 90 objetivos ambientais mais importantes acordados internacionalmente nos últimos 40 anos tiveram avanços significativos. Oito objetivos tiveram retrocesso, 40 registraram poucos avanços e 24 praticamente não apresentaram nenhum progresso, além de 14 que não tiveram dados mensuráveis. (Leia mais nesta reportagem do Jornal da Ciência)
Não seria o caso de nossa imprensa trabalhar estes números e confrontá-los com o que se espera da Rio+20? Produzir matérias que mostrem os objetivos alcançados, explorem os motivos do retrocesso de oito destes objetivos? Apurar as condições de assinatura destes acordos e suas variações políticas?
O jornalismo rosa não pode contaminar o jornalismo "verde" - por mais que desgoste desta expressão. Apurar, aprofundar, questionar precisam continuar a ser bandeiras fundamentais para o jornalismo. Seja de cor ele seja!
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