segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nova data para a Rio+20 ou como o jornalismo ainda não sabe lidar com o assunto

Dilma Roussef - Exame/Sebastien Nogier/AFP
A Rio+20 deve ser adiada em 3 semanas, para não coincidir com as comemorações dos 60 anos da coroação da Rainha Elizabeth II, e para facilitar a vinda dos chefes de Estado da Ásia, que estarão no México para a próxima reunião do G20, prevista para 18 e 19 de junho de 2012. A nova data deve ser de 20 a 22 de junho.

Os motivos para o adiamento parecem claros e lógicos: garantir representatividade para a Conferência, por meio da presença do maior número possível de chefes de Estado no Rio de Janeiro. E, embora não tenha sido comentado em nenhuma das notícias que li a respeito, é louvável também que se pense na redução dos impactos ambientais com o deslocamento otimizado das delegações asiáticas na Rio+20. Curioso, porém, é fazer uma leitura rápida das manchetes dos principais jornais e sites sobre o assunto, todas datadas de 4/11/2011.

Uol:  Dilma decide adiar abertura do Rio+20 (Valor Econômico, com informações da Agência Brasil)

O Globo: Dilma pede o adiamento da Rio+20 para garantir vinda de mais chefes de Estado (único com reportagem assinada por jornalista do próprio veículo, Claudio Motta)

Folha de São Paulo: A pedidos em Cannes, Dilma concorda em mudar data da Rio+20

Exame: Após pedido da ONU, Dilma anuncia nova data da Rio+20

Terra: Após pedido da ONU, Dilma adia data da Rio+20 em duas semanas (com informações da Agência EFE)

Veja: Após pedido da ONU, Dilma anuncia nova data da Rio+20 (com Agência EFE)

Globo Rural:  Dilma altera data de abertura da Rio+20

Poder Online: No G-20, Dilma muda data da Rio+20 (Ig)

SRZD: Dilma adia data do Rio+20 a pedido do G-20

A manchete, numa notícia, tem o objetivo de chamar a atenção para a leitura, mas também de fazer uma síntese do que se trata. Se olharmos somente os títulos, uma dúvida: Dilma pediu ou determinou o adiamento? Depois, podemos ser levados a achar que a Presidente do Brasil tem o poder de adiar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, seja a pedido da ONU, do G20 ou "a pedidos". Embora no texto das notícias tenha ficado mais claro que a proposta foi um consenso entre o Brasil e a ONU, representados respectivamente por Dilma e pelo secretário geral da entidade, Ban Ki-moon, somente o Globo acrescentou uma informação fundamental neste processo: a mudança da data da Rio+20 precisava passar pelo conference bureau e depois ser aprovada pela Assembléia Geral da ONU. Foi também o único que não se limitou às informações restritas das agências de notícias, mas fez o trabalho de casa de todo repórter, ouvindo outras fontes.

Outro dado interessante é ver em que editorias as notícias saíram. Em O Globo, no impresso foi em Economia, mas no Online, em Ciência. Nos demais, saiu com as rubricas Internacional (Agência Brasil e Veja), Economia (UOL), Diplomacia (Exame e Poder Online), Ciência (Terra), TV (Folha), Meio Ambiente (Agência Brasil), Meio Ambiente/Sustentabilidade (Globo Rural). Embora a sustentabilidade seja um tema transversal, cabe perceber como cada veículo de comunicação parece enquadrá-lo numa determinada "caixinha", o que traz abordagens distintas (e eventualmente até conflitantes).

Hoje pela manhã, fiz uma busca na internet dos desdobramentos da notícia de 4/11. Até o momento, não encontrei nada - nenhuma repercussão, nem mesmo uma confirmação da nova data pela Assembléia Geral da ONU.

Este episódio nos mostra como ainda estamos longe de tratar adequadamente não só a Rio+20, mas o a própria sustentabilidade (e quiçá, até mesmo as demais notícias). Mais um bom motivo para a realização do IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, cuja ênfase será justamente a cobertura da Conferência (Leia mais sobre o IV CBJA aqui).

2 comentários:

  1. Boa análise, Lucia. Temos muito o que avançar no entendimento de que a sustentabilidade do planeta é muito mais importante do que a de qualquer evento isolado, ou de pessoas, ou de nobres...
    Antonio Carlos Teixeira

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  2. Obrigada, Antonio Carlos. O tratamento que a mídia dá à sustentabilidade carece não apenas de aprofundamento, que é a crítica que normalmente se faz ao jornalismo, mas principalmente de conhecimento sobre o assunto.

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