terça-feira, 29 de novembro de 2011

Belo Monte e a nova arena política - parte 2

E o movimento na web em torno da questão de Belo Monte não para. Agora são alunos de engenharia e economia da Unicamp que, motivados por um professor com formação em Engenharia Elétrica, resolveram produzir um vídeo respondendo ao Gota D'água. O novo filme, chamado de Tempestade em Copo D'Água, já foi visto por quase 100 mil pessoas no YouTube e teve  mais de 73 mil compartilhamentos no Facebook.

O movimento tem uma página na Internet - http://www.tempestadeemcopodagua.com/index.aspx, onde apontam "todos os erros e acertos do Gota D'Água". Também divulgam um artigo do professor que deu origem ao Tempestade.

Com as armas da internet, o debate parece longe de terminar. Qual será a sua repercussão em Brasília?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Belo Monte e a nova arena política: vídeos na tela do computador

Discutir a força da Internet e dos vídeos que se tornam virais é chover no molhado. Mas o rápido alcance de  filmes como o produzido pelo Movimento Gota D"Água contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte já provocou uma reação do Governo, levantando um novo fenômeno: o debate político sai de suas arenas tradicionais e ganha os posts das redes sociais e dos emails.

Falando na abertura do Fórum Exame de Energia, em São Paulo, nesta segunda, 21 de novembro, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, criticou organizações não governamentais e estrangeiros que contestam a obra e afirmou que há um "conluio de ignorância e má-fé" contra a usina. O ministro não quis comentar diretamente sobre o Gota D'água, que já arrecadou cerca de 1 milhão de assinaturas numa petição online contra Belo Monte. O detalhe é que o vídeo não é veiculado nos meios de comunicação tradicionais, mas pelas redes sociais na internet.

Segundo Lobão, o Consórcio Norte Energia, responsável pela obra da usina, está produzindo um vídeo com informações atualizadas sobre o projeto para esclarecer a população. O consórcio mantém um blog, "Por que Belo Monte", e, evitando críticas diretas aos movimentos populares contrários à hidrelétrica, publicou em 22 de novembro um post afirmando que o debate sobre a importância da usina pede mais subsídios. Na página estão disponíveis vários vídeos com informações sobre a obra.

A visibilidade conquistada pelo Movimento Gota D'Água se apóia fortemente na presença de atores famosos, que de maneira simples e direta vão da indiferença ao questionamento, terminando por conclamar o espectador a se mobilizar.

Muito antes da produção desta peça, porém, outras vozes já apresentavam denúncias, como o Movimento Xingu Vivo para Sempre, um coletivo de organizações e movimentos sociais e ambientalistas da região de Altamira e das áreas afetadas pelo projeto que historicamente se opõem à instalação de Belo Monte no rio Xingu.

O vídeo a seguir narra uma reunião em julho de 2011,  na aldeia Piaraçu, no Mato Grosso, com mais de 300 lideranças indígenas de 18 etnias diferentes da Bacia do Xingu com lideranças do Movimento Xingu Vivo para Sempre.

Sem querer desmerecer a discussão sobre a necessidade ou viabilidade da construção de Belo Monte, um debate que sem dúvida é importante e deve envolver a sociedade brasileira, chamo a atenção para as ferramentas que a polêmica vem lançando mão. Mesmo que jornais e televisões incluam o assunto em seus noticiários, a esfera pública do questionamento e da argumentação adotou novas linguagens e formatos  - o videoclip - e novos meios - as redes sociais. A verificar, ainda, a capacidade desta mobilização virtual de transformar o real. Ou melhor: o quanto as imagens e sons que circulam na internet têm energia para deter as obras da maior hidrelétrica do mundo.



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Acidente em Campos é semelhante ao do Golfo do México

O alerta é do Greenpeace:

Uma semana desde que foi noticiado o derrame de petróleo da empresa Chevron no Campo de Frade, na Bacia de Campos, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) finalmente se pronunciou e estima que o vazamento possa chegar a mais de 330 barris - ou mais de 50 mil litros de petróleo a cada 24 horas. Segundo o Jornal O Globo,  o acidente é até oito vezes maior do que o estimado pela petrolífera americana em seu comunicado do dia 16/11. Em vez dos 400 a 650 barris informados pela companhia, já seriam mais de três mil de barris derramados. (veja a reportagem de O Globo)

O acidente reproduz a história do vazamento da BP no Golfo do México, em 2010, e, coincidência ou não, a plataforma SEDOC 706, que perfura os três poços da Chevron de onde saiu o vazamento, é da mesma empresa que operva com a BP no episódio mexicano, a Transocean.

(para ler na íntegra o texto do Greenpeace, clique aqui)

No jornal da Band desta quinta, 17/11, o âncora Ricardo Boechat comentava que além de custar a admitir a seriedade do acidente, a Chevron ainda apresenta uma enorme dificuldade em fornecer informações. São evasivas, silêncios, negativas. A empresa simplesmente não fala. O jornalista questionou qual será a atuação das autoridades, já que no episódio semelhante, envolvendo a BP, as multas foram pesadas.

Lógico que punir a companhia e cobrar pelos prejuízos ao meio ambiente é fundamental. Cabe, porém, outra reflexão neste caso.

Em tempos em que as empresas anunciam que perseguem a transparência, o relacionamento com seus públicos e o diálogo permanente, elevando assim a Comunicação a um lugar estratégico, a Chevron parece se ancorar numa perspectiva segundo a qual o mundo corporativo dita as regras sem encontrar interlocutores que a questionem ou que a ela se contraponham.

Ao se fechar no silêncio e tatear no seu posicionamento público, a Chevron também nos indica o que acontece a uma empresa que não valoriza a Comunicação como elemento fundamental na construção de credibilidade, reputação, imagem positiva.

Um único episódio, tantas lições. Será que iremos aprender?

sábado, 12 de novembro de 2011

Eu uso apenas suor


Um homem decide correr pelado na rua, ao invés de usar roupas esportivas feitas por crianças em sweatshops. I wear only sweat (Eu uso apenas suor) é um dos 116 filmes que concorreram ao REC A<FAIR deste ano. REC A<FAIR é uma competição alemã de curtas sobre comércio justo, organizada pelo Forum Fairer Handel (Fórum de Comércio Justo), uma rede de organizações que atuam em quatro áreas: educação, princípios e critérios, campanhas de divulgação e trabalho político. Embora não tenha sido o vencedor, o filme chama a atenção para o trabalho infantil e as péssimas condições de trabalho da indústria do vestuário. As oficinas de costura são apelidadas de sweatshops  - fábricas de suor - porque em geral são ambientes nos quais os trabalhadores cumprem longas jornadas de trabalho por salários muito baixos, sem cobertura legal e sem direitos trabalhistas, muitas vezes em condições análogas a de trabalho escravo. Em locais apertados, sem janelas, com pouco espaço, os trabalhadores suam em excesso. (Para saber mais sobre sweatshops, leia esta excelente reportagem do Com Ciência, a revista de jornalismo científico do LabJor da Unicamp.
Dirigido por Manon Heugel, o vídeo está em inglês com legendas em espanhol. A dica veio do site Osocio, especializado em publicidade sem fins lucrativos e de causa.






quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Histórias de responsabilidade

Associar marca à sustentabilidade e à responsabilidade social parece um imperativo atualmente.
Mas as peças publicitárias adotaram nova estratégia: ao invés de descreverem os projetos, apresentarem números ou uma mera prestação de contas, estão privilegiando as pessoas e suas histórias.

Esta tendência desponta também em outras temáticas. A Comunicação e o Marketing parecem ter redescoberto o elemento humano como diferencial entre tantos atributos. E cada homem tem uma trajetória própria, que pode ser contada e também ser apropriada a favor de uma causa. Ou de uma marca.

Um exemplo é a série de filmes que a Ogilvy Brasil, em parceria com a Conspiração Filmes, fez para o Coletivo Coca-Cola, um projeto de responsabilidade socioambiental da empresa. O Programa Reclame, do canal por assinatura Multishow, exibiu o making-of, que pode ser assistido abaixo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nova data para a Rio+20 ou como o jornalismo ainda não sabe lidar com o assunto

Dilma Roussef - Exame/Sebastien Nogier/AFP
A Rio+20 deve ser adiada em 3 semanas, para não coincidir com as comemorações dos 60 anos da coroação da Rainha Elizabeth II, e para facilitar a vinda dos chefes de Estado da Ásia, que estarão no México para a próxima reunião do G20, prevista para 18 e 19 de junho de 2012. A nova data deve ser de 20 a 22 de junho.

Os motivos para o adiamento parecem claros e lógicos: garantir representatividade para a Conferência, por meio da presença do maior número possível de chefes de Estado no Rio de Janeiro. E, embora não tenha sido comentado em nenhuma das notícias que li a respeito, é louvável também que se pense na redução dos impactos ambientais com o deslocamento otimizado das delegações asiáticas na Rio+20. Curioso, porém, é fazer uma leitura rápida das manchetes dos principais jornais e sites sobre o assunto, todas datadas de 4/11/2011.

Uol:  Dilma decide adiar abertura do Rio+20 (Valor Econômico, com informações da Agência Brasil)

O Globo: Dilma pede o adiamento da Rio+20 para garantir vinda de mais chefes de Estado (único com reportagem assinada por jornalista do próprio veículo, Claudio Motta)

Folha de São Paulo: A pedidos em Cannes, Dilma concorda em mudar data da Rio+20

Exame: Após pedido da ONU, Dilma anuncia nova data da Rio+20

Terra: Após pedido da ONU, Dilma adia data da Rio+20 em duas semanas (com informações da Agência EFE)

Veja: Após pedido da ONU, Dilma anuncia nova data da Rio+20 (com Agência EFE)

Globo Rural:  Dilma altera data de abertura da Rio+20

Poder Online: No G-20, Dilma muda data da Rio+20 (Ig)

SRZD: Dilma adia data do Rio+20 a pedido do G-20

A manchete, numa notícia, tem o objetivo de chamar a atenção para a leitura, mas também de fazer uma síntese do que se trata. Se olharmos somente os títulos, uma dúvida: Dilma pediu ou determinou o adiamento? Depois, podemos ser levados a achar que a Presidente do Brasil tem o poder de adiar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, seja a pedido da ONU, do G20 ou "a pedidos". Embora no texto das notícias tenha ficado mais claro que a proposta foi um consenso entre o Brasil e a ONU, representados respectivamente por Dilma e pelo secretário geral da entidade, Ban Ki-moon, somente o Globo acrescentou uma informação fundamental neste processo: a mudança da data da Rio+20 precisava passar pelo conference bureau e depois ser aprovada pela Assembléia Geral da ONU. Foi também o único que não se limitou às informações restritas das agências de notícias, mas fez o trabalho de casa de todo repórter, ouvindo outras fontes.

Outro dado interessante é ver em que editorias as notícias saíram. Em O Globo, no impresso foi em Economia, mas no Online, em Ciência. Nos demais, saiu com as rubricas Internacional (Agência Brasil e Veja), Economia (UOL), Diplomacia (Exame e Poder Online), Ciência (Terra), TV (Folha), Meio Ambiente (Agência Brasil), Meio Ambiente/Sustentabilidade (Globo Rural). Embora a sustentabilidade seja um tema transversal, cabe perceber como cada veículo de comunicação parece enquadrá-lo numa determinada "caixinha", o que traz abordagens distintas (e eventualmente até conflitantes).

Hoje pela manhã, fiz uma busca na internet dos desdobramentos da notícia de 4/11. Até o momento, não encontrei nada - nenhuma repercussão, nem mesmo uma confirmação da nova data pela Assembléia Geral da ONU.

Este episódio nos mostra como ainda estamos longe de tratar adequadamente não só a Rio+20, mas o a própria sustentabilidade (e quiçá, até mesmo as demais notícias). Mais um bom motivo para a realização do IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, cuja ênfase será justamente a cobertura da Conferência (Leia mais sobre o IV CBJA aqui).