terça-feira, 19 de maio de 2009

O debate que falta

Comentário do jornalista Luciano Martins Costa para o programa de rádio do Observatório da Imprensa de hoje, 19/5
 

O governo federal acaba de tomar decisão importante para a compreensão da estratégia de desenvolvimento que o Brasil adota. Dos grandes jornais diários de circulação nacional, apenas a Folha de S.Paulo registrou a medida. Trata-se da redução do valor que as empresas devem pagar por obras como rodovias e hidrelétricas, a título de compensação por danos ambientais.

O valor estabelecido há quase dez anos era de no mínimo 0,5% sobre o custo total da obra. O Ministério do Meio Ambiente defendia o aumento do piso para 2%, mas, ao contrário das expectativas e da opinião dos ambientalistas, o decreto presidencial noticiado na terça-feira (19/5) pela Folha revela que o Executivo decidiu que 0,5% será o teto máximo da taxa de compensação.

O Estado de S.Paulo ignora o acontecimento, e também não traz outras informações sobre a questão ambiental, porque dedica apenas uma seção fixa, semanal, para o assunto. A edição da terça-feira de O Globo traz o tema meio ambiente no pé do noticiário científico, mas também deixa passar em branco o decreto presidencial.

Trata-se de medida essencial para sinalizar a verdadeira disposição do governo de preservar o patrimônio biológico do país ao mesmo tempo em que procura acelerar o crescimento econômico. E o sinal emitido com esse decreto não é verde.

Oportunidade perdida

As grandes obras já em andamento ou planejadas no Plano de Aceleração do Crescimento – pacote de empreendimentos com os quais se pretende melhorar e ampliar a infra-estrutura de transportes e geração de energia – , têm sido tema constante na imprensa, mas em geral o noticiário se refere a custos ou à conveniência de determinadas escolhas técnicas.

Em raros momentos, no período de quase dois anos em que se desenvolve o PAC, os jornais e revistas colocaram em debate público a estratégia de desenvolvimento no que se refere à sustentabilidade.

O decreto presidencial reduzindo as exigências para a compensação ambiental de grandes obras seria uma grande oportunidade para aprofundar o debate. Mas a imprensa adora perder oportunidades.

Avançando para trás

O valor das compensações ambientais não é o único elemento para avaliar as intenções de planos de desenvolvimento no que se refere à preservação ambiental, mas essa questão não deveria ser descartada dos debates econômicos.

No noticiário recente sobre o tema, os jornais têm dado mais atenção às performances midiáticas do ministro do Meio Ambiente Carlos Minc do que às medidas efetivas que poderiam resguardar o patrimônio do país nos locais onde há grandes obras em andamento.

A mais recente participação do ministro no espetáculo noticioso foi seu apoio público às tímidas manifestações que ocorreram em algumas cidades em defesa da descriminalização de drogas. A continuar nesse estilo, Carlos Minc acaba celebrizado como o ministro do Meio Ambiente que se dedicou à defesa de apenas uma espécie vegetal, a cannabis sativa.

A imprensa parece se divertir, ou pelo menos se distrai com o desempenho pouco convencional do ministro. Enquanto isso, em termos ambientais o Brasil anda para trás, sob os olhares complacentes da mídia.


segunda-feira, 18 de maio de 2009

ONU usa o Twitter para promover o plantio de árvores



Em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 de junho, as Nações Unidas anunciaram ontem a meta de plantar sete bilhões de árvores até o fim deste ano, numa tentativa de estimular os líderes mundiais, que se reúnem em dezembro na cidade de Copenhague, a chegar a um novo acordo para combater a mudança climática.

Como parte da iniciativa, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) promete plantar uma árvore para cada pessoa que seguir o perfil da campanha no Twitter até 5 de junho. O Programa espera atrair 100 mil pessoas até essa data. "Para alcançar a meta de árvores plantadas, precisamos do apoio de escolas, governos, empresário e cidadãos", afirmou o Diretor Executivo do PNUMA, Achim Steiner.

O PNUMA pediu apoio mundial a essa meta. Até agora, cerca de três bilhões de árvores já foram plantadas em mais de 150 países. "Plantando uma árvore ou milhares, o PNUMA pede que as pessoas registrem sua cota de árvores no site da campanha", disse o Programa em nota publicada. Para Steiner, se metade das pessoas do mundo plantar, cada uma delas, uma muda até o Dia Mundial do Meio Ambiente, esta seria uma "mensagem poderosa para que os líderes mundiais cheguem a um acordo".

A meta de plantio é só o primeiro de uma série de eventos de participação coletiva promovidos pela campanha "Selem o acordo!" das Nações Unidas.

http://rio.unic.org/index.php?option=com_content&task=view&id=1806&Itemid=73
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sexta-feira, 8 de maio de 2009

Fórum discute relação de Comunicação com Sustentabilidade

Saiu hoje no site Mercado Ético uma reportagem sobre o II Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade, que aconteceu nos dias 6 e 7 de maio em São Paulo. Segue a íntegra:
 
08/05/2009 - 17:07:19

Educação + Comunicação = Sustentabilidade

Leticia Freire, do Mercado Ético

Foto: Bruno Mooca
II Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade: dois dias (6 e 7/5) de muita conversa sobre o papel da educação e da comunicação na consolidação mundial de uma cultura de sustentabilidade. Tendo como porta-estandarte a Carta da Terra, o evento focou na discussão da diversidade humana, no meio ambiente e nos fatos históricos das crises econômicas recentes para o encontro de soluções para os problemas globais.

O evento tem como principal objetivo a promoção do entendimento e a discussão entre os setores público, privado e sociedade civil sobre o papel educativo da comunicação para a compreensão do conceito de sustentabilidade. Entre os palestrantes filósofos, pacifistas, intelectuais, educadores, políticos e empresários. Na abertura, mais de 1.500 estudantes, dos 3.000 inscritos, faziam fila no Palácio de Convenções do Anhembi.

Jorge Macedo Pires, estudante de Comunicação Social da PUC-SP veio conferir se comunicação também é sinônimo de sustentabilidade. "Acredito que uma coisa não ande sem a outra. Para fazer a diferença é preciso saber como", pontua. Fabiane Araújo, estudante de jornalismo também da PUC/SP concordou com o amigo e lamentou que muitos estudantes ainda não compreenderam a importância do tema. "Vemos tantas pessoas se formando e sendo responsáveis por comunicar coisas que nunca tiveram interesse em ouvir. Esse é um evento gratuito e muito pertinente para a formação do estudante, a academia deveria se preocupar mais com a qualidade do profissional que lança no mercado de trabalho", relata.

Ambos estavam visivelmente ansiosos para as palestras do dia, assim como Mariana Figueredo, estudante de pedagogia da Universidade São Judas. "Vim ouvir a monja Coen falando da Carta da Terra e me esbaldar com os pensamentos de Bernardo Toro e Férrez", sorri.

Na abertura do evento, monja Coen, missionária zen-budista que divulga o princípio da não-violência e da criação de uma cultura de paz, pediu a todos os participantes mais atenção à forma como reverenciamos a vida na Terra. "Quando a Carta da Terra afirma a interdependência de toda a vida existente e desperta a necessidade de construção de uma cultura de paz e respeito a todas as formas de vida, ela está afirmando que somos todos únicos, cada um de nós, mas que ao mesmo tempo somos interdependentes uns dos outros, como coparticipantes da mesma aventura da vida. O que exige de cada um de nós uma conduta ética constante", afirmou.

Dinâmicas verdadeiramente sustentáveis na sociedade

Cada ser humano é uma pequena sociedade, repleta de sonhos, desejos e necessidades. Segundo Bernardo Toro, educador e filósofo colombiano, para transformar a sociedade é importante enxergar - lá primeiro dentro dessa pluralidade. Para Toro ainda falta enxergar o homem como um ser que migra, levando e trazendo consigo muitas experiências, tradições e culturas vitais para o debate da sustentabilidade. "Para se ter idéia, hoje em dia 360 milhões de pessoas vivem fora de sua terra natal e movimentam mais de US$600 milhões em remessas de dinheiro às suas famílias. Isto faz com que seja necessário desenvolver, e rápido, maior capacidade pessoal de convívio com o diferente".

No que diz respeito ao binômio cultura e arte, Danilo Miranda, diretor regional do SESC, acredita que as dinâmicas sociais precisam ganhar mais espaço por meio da cultura e arte. "O binômio cultura e arte pode ser um elemento transformador da realidade se não for banalizada", disse. Para ele, cada um compõe um perfil dentro do espaço social, cultural e econômico e isso precisa ser reconhecido e democratizado como uma forma de arte-educação. "Não há transformação sem educação e a sociedade só pode viver uma dinâmica de desenvolvimento verdadeiramente sustentável se nela houver apoio efetivo à manifestação humana, sustentada por equipamentos culturais de qualidade", disse.

Democracia, paz e educação

Lord David Trimble, Prêmio Nobel da Paz em 1998 por sua atuação nas negociações de paz entre Irlanda e Irlanda do Norte, enfatizou o papel da educação na construção de uma sociedade pacífica. Para ele, a formação de cidadãos começa na escola e muitas instituições não estão priorizando isso. "Muitos dos integrantes de movimentos terroristas são tão desinformados sobre a possibilidade de apresentar suas reivindicações em um sistema democrático, e até mesmo vê-las aceitas, que não veem outra alternativa senão a força e a violência. No meu entender, parte da responsabilidade disto decorre do fato de os processos educacionais, no mundo inteiro, costumarem enfatizar os aspectos de formação profissional e deixar em plano muito secundário a formação cidadã" relatou.
Justiça social e econômica - o papel dos bancos

Edmund Phelps, Prêmio Nobel de Economia em 2006 por estudos sobre recessão e desemprego, afirmou que os bancos deveriam retornar ao seu papel de financiar a inovação e a produção, mesmo que isto implique tomar algum risco no investimento. "Estamos na lógica do eu e meu. Mas o egoísta se esquece que assim ficará sem ter a quem financiar", disse

O economista brasileiro Luiz Gonzaga Belluzzo tem a mesma opinião e criticou aos excessos das instituições financeiras a partir da virada do Século. "O setor financeiro está agindo errado. Precisamos inovações tecnológicas sendo apoiadas e financiadas em todo o mundo, redinamizando a economia em escala global e aportando socialmente novos e melhores processos produtivos".

Segundo ele, o endividamento chegou a 140% da renda disponível nos Estados Unidos e a 150%, na Inglaterra, e a expansão desenfreada do crédito e o surto consumista deterioraram completamente o sistema, inclusive com redução sensível das condições de vida até mesmo nos países ricos. "Bbasta lembrar que nos Estados Unidos a insuficiente assistência pública à saúde e a educação básica de baixa qualidade foram temas recorrentes nas últimas eleições norte-americanas", reforçou.

Meio ambiente, comunicação e mudança de comportamento

Mas nem tudo está perdido. O jornalista Florestan Fernandes Junior, afirmou que a comunidade começa a mudar seu comportamento. "Finalmente a ficha está caindo e a humanidade começa realmente a perceber a necessidade de mudar comportamentos", disse. Para Florestan, compete à comunicação disseminar as novas regras das dinâmicas sociais, culturais e econômicas.

Para a senadora Marina Silva, "a responsabilidade pela sustentabilidade deve ser partilhada igualmente entre todas as gerações". No encerramento dos debates, a ex-ministra do Meio Ambiente enfatizou o que será o principal desafio para todos os países. "O desenvolvimento articulado de ao menos seis aspectos sustentáveis nas diferentes sociedades humanas: sustentabilidade ambiental, cultural, econômica, estética, ética e política. Em não sendo assim, embora de um modo que as sociedades humanas nunca viram ou praticaram, não haverá verdadeira equidade nem sustentabilidade para a espécie humana viver em sociedade".

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Lucia Santa Cruz
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Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade e seu compromisso com o meio ambiente.