Há muita gente que acha que os bancos, pela natureza da sua operação,
não podem ser socialmente responsáveis. Outros já consideram que é
possível, sim. Uma pesquisa do Idec, publicada esta semana no site
Responsabilidade social (
www.responsabilidadesocial.com.br), mostra
que a prática dos grandes bancos no Brasil ainda é muito tímida.
Acompanhe a seguir:
O discurso é forte, a intenção existe e algumas ações até mesmo estão
sendo empreendidas, mas os grandes bancos que operam no Brasil ainda
deixam a desejar quando o assunto é responsabilidade social. A
constatação está numa pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor (Idec), que avaliou o comportamento de entidades
financeiras em relação ao trabalho, consumidores e meio ambiente.
No estudo divulgado neste mês, o Idec analisou o discurso dos oito
maiores bancos de atuação nacional (com mais de 1 milhão de clientes),
entre junho e novembro de 2007. A pesquisa, exceto na parte referente
aos consumidores, se baseou nas respostas das próprias instituições.
"A nossa preocupação foi estabelecer uma avaliação com critérios
claros e que permitissem tanto comparar as instituições quanto mostrar
o posicionamento de cada uma delas em relação às melhores práticas de
responsabilidade sócio-ambiental", explica o assessor técnico do Idec,
Marcos Pó.
O resultado é surpreendente nesse momento em que os bancos tentam cada
vez mais atrelar sua imagem à sustentabilidade. Numa escala de 1 a 5
pontos, nenhuma das instituições chegou a 3 pontos e a média do setor
ficou em torno de 2 pontos. Os melhores desempenhos foram do ABN Amro
Real (2,75) e Bradesco (2,60), seguidos do Itaú (2,41), Banco do
Brasil (2,21), Caixa Econômica Federal (1,93), HSBC (1,73), Santander
(1,51) e Unibanco (1,51).
No quesito meio ambiente, por exemplo, o Santander ocupou o último
lugar do ranking (1,00), seguido do Unibanco e da Caixa (1,5). O
melhor desempenho foi do ABN, com três pontos. Já nas relações com os
trabalhadores, a melhor nota obtida foi do Itaú (3,25) e a pior do
Unibanco (1,75). Mas foi no item relações com consumidores que os
bancos tiveram as notas mais baixas: Itaú, HSBC, Unibanco e Santander
tiveram 1,33 (péssimo) e ABN, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa
ficaram com 2 (ruim).
"Uma instituição só pode ser considerada socialmente responsável se
aplicar os conceitos de ética, com o respeito à legislação e com a
preocupação sobre os seus impactos na sua operação cotidiana. Ações
filantrópicas e projetos sociais são louváveis, mas não substituem a
preocupação ética diária", destaca Marcos Pó.
Para o gerente nacional de responsabilidade social da Caixa, Jeter de
Souza, a comparação com outras instituições representa uma
oportunidade de aprendizado. "Não cabe um julgamento sobre os
critérios ou metodologias, pois são próprias do instituto que a
idealizou. Mas vale como aperfeiçoamento a partir da experiência e das
melhores práticas desenvolvidas pelas demais instituições
participantes", conta.
Segundo ele, a Caixa iniciou sua inserção nos conceitos e melhores
práticas voltadas para a sustentabilidade em 2004 e no segundo
semestre de 2007 a empresa passou por uma reestruturação, que teve
como orientação a valorização das pessoas e dos mecanismos de
governança corporativa. "Para este ano, o banco pretende aperfeiçoar a
política de crédito e risco, incluindo indicadores sociais e
ambientais", revela.
Para desenvolver a pesquisa, o Idec contou com a colaboração de
algumas instituições parceiras, como Amigos da Terra, Confederação
Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese),
Centro de Pesquisa de Empresas Multinacionais da Holanda (Somo), entre
outras. A íntegra do estudo
está no site do Idec (www.idec.org.br)
Relatório internacional
Três instituições citadas na pesquisa do Idec, também figuraram o
relatório Mind the Gap, produzido pelo Banktrack, organização
internacional sem fins lucrativos criada para fiscalizar e monitorar o
setor financeiro. O Banco do Brasil, Bradesco e Itaú obtiveram
resultados pouco acima da média das outras instituições analisadas,
porém baixos se tratados na escala de zero a quatro estabelecida pelo
estudo.
A pesquisa analisou, ao todo, 45 bancos espalhados por todo o mundo.
Para seleção, o Banktrack levou em conta os bancos com maior número de
ativos, empréstimos realizados, financiamento de projetos e seguros
oferecidos. As instituições foram avaliadas numa escala de zero
(política inexistente ou não-pública), um (vaga ou ainda uma
aspiração), dois (não-consistentes o suficiente), três (boas práticas,
faltando poucos ajustes) e quatro (total conformidade).
A base de comparação para as notas são práticas internacionais que se
tornaram paradigmas de sustentabilidade, tais como certificação de
florestas, do Forest Stewardship (FSC) e a Declaração dos Direitos
Humanos das Nações Unidas. O estudo foi divulgado em dezembro passado
e na página eletrônica da instituição (www.banktrack.org) é possível
consultar o perfil de todos os bancos do ranking.